Adultização: por que é tão perigoso?

Nos últimos dias, o tema adultização ganhou destaque nas redes sociais após um vídeo do influenciador Felca, em que ele denuncia como algumas crianças estão sendo expostas de forma inadequada no ambiente digital — muitas vezes com conotação sexual. Mas, afinal, o que é adultização e por que isso é tão preocupante?

O que é adultização?

Adultização infantil é quando crianças e adolescentes são tratados, expostos ou estimulados como se fossem adultos — seja na forma de se vestir, se comportar, produzir conteúdo ou até lidar com responsabilidades e linguagens que não condizem com sua idade.

Não se trata apenas de uma roupa ou de uma rede social: é um fenômeno complexo que envolve sexualização precoce, pressão estética, exposição midiática, perda do direito ao brincar e à inocência.

Exemplos de adultização:

  • Crianças reproduzindo falas ou danças com apelo sensual.
  • Perfis de crianças nas redes postando como influenciadores mirins.
  • Pais que incentivam filhos pequenos a se vestir ou agir como “mini adultos” (coach mirim, pastor mirim, etc).
  • Piadas e comentários sexualizados sobre o corpo de uma criança.

Por que isso é perigoso?

Quando uma criança é adultizada, ela não tem condições emocionais nem cognitivas de lidar com aquilo que está sendo projetado sobre ela. Isso pode gerar:

  • Dificuldades na construção da identidade
  • Problemas de autoestima e imagem corporal
  • Ansiedade e estresse precoce
  • Risco de abusos e exploração sexual
  • Perda da infância e do senso de segurança

A psicóloga e pesquisadora Eva Giberti explica que a adultização rompe o processo natural do desenvolvimento, violando o direito básico de viver as fases da vida com equilíbrio.

A exploração sexual na internet muitas vezes começa com conteúdos aparentemente “inocentes” que viralizam e caem em grupos errados. A adultização da imagem da criança facilita que ela seja vista como objeto e não como sujeito de proteção.

O que pais e responsáveis podem fazer?

A boa notícia é que é possível prevenir a adultização com atitudes simples e responsáveis:

✅ Respeitar a idade da criança: roupas, conteúdos, brincadeiras devem ser apropriados para a faixa etária.
Supervisionar a exposição nas redes: nunca postar fotos sensuais ou expor a criança ao ridículo.
✅ Conversar sobre limites e proteção: orientar desde cedo sobre seu corpo e privacidade.
✅ Valorizar o brincar, o lúdico e a imaginação: infância é lugar de crescer com liberdade, sem pressão estética.
✅ Ser exemplo: crianças aprendem observando os adultos ao seu redor.

A importância da infância como direito

A infância é uma etapa única, garantida por lei (ECA, artigo 16) como direito à dignidade, ao respeito, ao brincar e à convivência segura. A adultização viola tudo isso.

Quando garantimos que uma criança seja apenas criança, estamos protegendo seu desenvolvimento emocional, cognitivo, social e físico. Criança não tem que seduzir, performar, dar conta de padrões estéticos absurdos ou gerar engajamento online.

Proteção começa com consciência

Adultização não é “mimimi” nem exagero da internet: é uma forma séria de violência simbólica. O alerta do vídeo do Felca trouxe à tona o que muitas organizações, como UNICEF e Conselho Tutelar, já vêm denunciando há anos.

Pais, responsáveis, educadores e influenciadores precisam unir forças para proteger a infância — dentro e fora das telas.

Foto: Pedro Hamdan

Criança não é mini adulto. Criança é criança. E tem o direito de viver todas as fases da vida com segurança, cuidado e ternura.

Vamos juntos proteger a infância?

Contribua com a gente e proporcione arte, cultura, esporte e educação para crianças e adolescentes em vulnerabilidade